A partir da rodada do Brasileirão deste final de semana, os reforços contratados na janela de meio de ano pelos clubes nacionais já podem entrar em campo na competição. Então é hora de avaliar, com notas, dez das principais contratações até aqui. O que cada um dos nomes pode acrescentar?
Para entender os critérios das notas: os parâmetros de avaliação englobam a qualidade individual de cada atleta, como o estilo se encaixa dentro da necessidade do time e do elenco, custo-benefício da aquisição e momento da carreira.
Na próxima semana, avaliaremos mais contratações dos clubes brasileiros nesta janela de transferências. Fique ligado!
Contratações analisadas por ordem de nota:
Allan (Flamengo) – 9
Matías Rojas (Corinthians) – 9
Luiz Araújo (Flamengo) – 8
Gilberto (Bahia) – 7
Leonardo Fernández (Fluminense) – 7
Fransérgio (Coritiba) – 7
Rossi (Flamengo) – 7
Iturbe (Grêmio) – 6
Serginho (Vasco) – 4
Marinho (Fortaleza) – 4
Allan (Flamengo) – 9
Volante; 8,2 milhões de euros (R$ 43 milhões)
Contratação certeira do Flamengo para um setor carente após a saída de João Gomes, a pouca resposta dada por Vidal em 2023, e o aproveitamento de Gérson mais adiantado por Jorge Sampaoli. Allan tem muita chance de ganhar sequência como titular. Já trabalhou e foi bem com o treinador argentino, e se encaixa naquilo que ele pensa para um volante.
Veja como foi o primeiro dia de Allan no Flamengo
Além da qualidade no passe, potencial de inversão de lado da jogada com precisão, boas decisões em espaços curtos e coragem, o ex-jogador do Galo é mais móvel em relação a Thiago Maia e Pulgar, volantes que têm sido mais utilizados, e consegue gerar linhas de passe aos zagueiros e ao goleiro com maior frequência. Se mexe com desenvoltura na primeira fase de construção dos ataques.
Mesmo não sendo a sua especialidade, tem um bom nível nos combates e entrega correção no posicionamento defensivo. Sofre diante de jogadores mais físicos. É franzino para se impor em bolas aéreas e diretas dos adversários, ou em jogos de muito choque. Valor um pouco acima do mercado interno para um volante de 26 anos, mas compreensível pela relação de rivalidade existente entre Atlético e Flamengo, além da necessidade do rubro-negro.
Matías Rojas (Corinthians) – 9
Meia, sem custos
Estar atento às oportunidades de mercado é fundamental para clubes em crise financeira e com pouco poder de investimento para pagar multas rescisórias. A vinda de Matías Rojas para o Corinthians é um bom exemplo disso. Dentre os muitos erros da diretoria alvinegra, a aquisição do paraguaio apenas com o pagamento de luvas é um acerto. Jogador com potencial para ser titular da equipe e ajudar bastante.
Ele tem 27 anos e muita coisa pela frente na carreira. É um meia que costuma jogar aberto pelo lado direito. Sem, porém, ficar o tempo todo espetado pelo flanco buscando profundidade. Funciona ao circular do lado para o meio, explorando as costas dos volantes adversários para receber a bola e servir os atacantes, ou já com a bola dominada, tentando tabelas, triangulações, finalizações de média distância.
Rojas é habilidoso, tem controle de bola e boa finalização. Foi um dos destaques da 1ª fase da Libertadores. Balançou as redes 26 vezes e deu 14 assistências em 126 jogos pelo Racing. Defensivamente ainda pode contribuir mais, e alterna bastante a intensidade nos jogos. Também pode jogar como um dos meias à frente de um volante no 4-3-3. Tipo de jogador que o elenco do Corinthians é carente.
Luiz Araújo (Flamengo) – 8
Atacante; 9 milhões de euros (R$ 48 milhões)
Outra ação bem certeira do Flamengo neste mercado de meio de ano se considerarmos a característica do jogador, a necessidade e o estilo do treinador, e a carência do elenco numa função específica. Luiz Araújo chega, teoricamente, para suprir a saída de Marinho. É cinco anos mais jovem e mostrou mais regularidade e qualidade que o ex-atleta rubro-negro ao longo da carreira.
O atacante canhoto revelado pelo São Paulo nunca trabalhou com Jorge Sampaoli, mas foi adversário do treinador no Campeonato Francês e sempre encheu os olhos do argentino. Rápido, tem ótimo controle de bola, habilidade para driblar em velocidade e encaixa bons passes para a área. Funciona como um ponta mais ‘’posicional’’. Bem aberto pela direita, recebendo e carregando na direção da área.
Acabou não conseguindo alcançar o nível imaginado inicialmente em sua trajetória. Chegou a ser campeão francês com o Lille e da Taça dos Campeões da França em cima do PSG. Foi titular em 71 dos 136 jogos feito pelo clube do extremo norte francês. Marcou 18 gols e deu oito assistências. Iniciou muito bem, teve uma queda de produção, e depois recuperou terreno até a passagem de altos e baixos pela MLS. Pode se concentrar mais em campo.
Gilberto (Bahia) – 7
Lateral-direito, 3 milhões de euros (R$ 15 milhões)
Mesmo com um valor um pouco mais alto do normal para um lateral de 30 anos, Gilberto chega ao Bahia para dar mais qualidade a um setor que tinha um titular improvisado há poucas semanas. Antes de se lesionar, o atacante Vitor Jacaré era o ala-direito de um time que atuava com três zagueiros, mas que mudou para a linha de quatro na defesa recentemente, o que pede a presença de um especialista na posição.
O atleta volta ao Brasil depois de três temporadas no Benfica. Fez 106 jogos pelo clube encarnado, quase 70% deles como titular. Foi levado por Jorge Jesus após se destacar por três anos seguidos no Fluminense. Anteriormente mostrava muita irregularidade, mas já tinha momentos de talento aflorado, sobretudo nas ações ofensivas. Gera muito volume e intensidade nas chegadas ao ataque. Faz gols e dá assistências. Personalidade forte!
Por mais que tenha perdido espaço recentemente no Benfica por questões defensivas, hoje é um lateral mais seguro do que era há quatro anos. Está bem acima do nível dos demais especialistas na posição no elenco do Bahia. Vai levar experiência e qualidade a um time que precisa de jogadores mais rodados para fazer uma Série A segura.
Leonardo Fernandez (Fluminense) – 7
Meia, empréstimo
O Fluminense é mais um clube brasileiro sem tanto potencial de investimento para ‘’quebrar’’ contratos por aí, e precisa de um bom poder de observação para trazer jogadores talentosos. Nomes que cheguem com capacidade para vestir a camisa do time e trazerem relevância a um elenco carente em alguns setores. A contratação do uruguaio Leo Fernandez preenche esses requisitos.
Léo Fernandez e Danielzinho: os reforços do Fluminense
Pense num jogador talhado para servir ao ‘’Modelo Diniz’’. O meia tem ótima relação com a bola. Gruda em sua canhotinha, encaixa bons passes, dribles, e ótimas soluções em espaços curtos. Funciona melhor pelo centro do campo, ou flutuando a partir da direita, com ou sem a bola dominada, mas jamais como um ponta para ficar aberto o tempo inteiro. Dentro do jogo de posse e ‘’costura’’, aproximação entre as peças, pode funcionar muito bem.
Fez 68 jogos pelo Toluca, clube que detém os seus direitos. 50 destas partidas como titular. Marcou 25 gols e deu 17 assistências. É ótimo cobrador de faltas e também bate pênaltis, finaliza bem. Peca pela pouca intensidade sem a bola e a dificuldade de percorrer longas distâncias em campo. Atua em espaços mais restritos. Defensivamente é irregular na contribuição.
Fransérgio (Coritiba) – 7
Volante, sem custos
Depois de ficar mais de quatro meses sem vencer, o Coritiba bateu o Goiás na última rodada do Brasileirão e vai precisar de reforços para sair do atoleiro que é o Z4 da competição. Um deles já chegou. O meio-campista Fransérgio volta ao futebol brasileiro depois de dez anos atuando na Europa. Construiu uma carreira consolidada no Braga e no Marítimo, e jogou no Bordeaux nas últimas duas temporadas.
Coritiba apresenta Fransergio, ex-Athletico
Ele vinha sendo titular na segunda divisão francesa e, se conseguir uma rápida readaptação ao Brasil, tem nível para ser uma das principais peças no campeonato de recuperação que o Coxa precisa fazer. Fransérgio é um volante com boa capacidade de organização na primeira fase de construção dos ataques. O ideal é que jogue em dupla com outro volante, já que não tem tanto poder de marcação neste momento da carreira.
Perdeu intensidade nos últimos anos, mas é bem experiente e encurta os espaços desta forma. Ocupando os setores e posicionando o corpo de forma correta para distribuir os passes, inclusive quando está pressionado. Não é um volante que dará tantos passes verticais ao longo de um jogo, mas tem mais capacidade de organização em relação aos demais atletas do setor no atual elenco alviverde.
Rossi (Flamengo) – 7
Goleiro, sem custos
Com fama de pegador de pênaltis, Rossi chega ao Flamengo fazendo jus a isso. Defendeu 25% das últimas 20 penalidades máximas contra a sua meta. Um número acima do normal. Desenvolveu um bom poder de observação baseado no posicionamento do pé de apoio do cobrador, e costuma acertar o canto em mais da metade das ocasiões. Outro dado relevante neste aspecto.
Rossi fala sobre período na Arábia e negociação do Flamengo com o Boca
Sem custos de pagamento de multa rescisória, o Flamengo enxergou uma boa opção no mercado para rivalizar com Santos inicialmente. Vale lembrar que o pré-contrato com o goleiro argentino foi assinado em janeiro, quando o antigo titular da meta rubro-negra estava muito bem e nem se sonhava com a ascensão de Matheus Cunha, novo dono da posição com Sampaoli.
Entenda o método de Rossi para pegar pênaltis
Agora a briga será ainda mais quente pela titularidade, e isso costuma elevar o nível de atuação dos jogadores envolvidos. Rossi não está acima de Santos e Matheus Cunha tecnicamente. Precisa melhorar a velocidade de reação e ser mais agressivo nas saídas do gol. Seja em bolas aéreas ou cobrindo as costas dos zagueiros. Entrega bom posicionamento e acrescenta no jogo com os pés. Boas decisões sob pressão e qualidade nos passes longos.
Iturbe (Grêmio) – 6
Atacante, sem custos
Renato Portaluppi vive repetindo nas entrevistas que precisa de pontas e jogadores de velocidade em seu elenco, e Juan Manuel Iturbe oferece isso. Do ponto de vista técnico, o argentino naturalizado paraguaio pode até não empolgar. Não se trata de um nome para chegar e vestir a camisa de titular por vários jogos, mas como composição de elenco vai ser útil, principalmente por ter chegado como um ‘’jogador livre’’, sem pagamento de multa.
Jeremias Wernek: Grêmio acerta com atacante Iturbe
É verdade que Iturbe já viveu momentos melhores na carreira. Vinha atuando no Aris, que foi o 5º colocado na última Liga Grega. Titular em 22 dos 41 jogos em que foi utilizado na temporada 22/23, marcou seis gols. É um canhoto que joga pela direita e pode atuar da forma que Renato gosta que seus pontas se comportem, circulando para o meio e abrindo o corredor para a passagem do lateral.
Não possui tanto poder de articulação e associação em espaços curtos, mas ainda entrega capacidade de ataque à última linha adversária, força física e disciplina no trabalho defensivo. Bate bem de fora da área também. Não dá para esperar dele a leveza e os dribles de Ferreira, por exemplo, mas em determinados jogos servirá ao time de forma competitiva.
Serginho (Vasco) – 4
Atacante, sem custos
O Vasco vive situação complicadíssima no Brasileirão e já está nítido que vai precisar se reforçar para evitar o quinto rebaixamento da história. O primeiro nome anunciado na janela foi o atacante Serginho, um ilustre desconhecido no futebol brasileiro. Ele construiu a carreira toda em centros de menor expressão no futebol europeu. Passou por Kosovo, Albânia e Macedônia do Norte antes de atuar no Giresunspor da Turquia nos últimos três anos.
Vasco apresenta Serginho, atacante e andarilho do futebol
É muito difícil avaliar o impacto da chegada dele ao clube e se de fato será útil. Mesmo participando de uma liga mais competitiva recentemente, não conseguiu tanto destaque a ponto de justificar sua contratação. Os momentos de relevância aconteceram num nível de enfretamento abaixo daquele que o Vasco terá no restante do ano.
Trata-se de um atacante de lado de campo. Destro. Pode jogar pelos dois flancos. Tem explosão em distâncias curtas e bom controle de bola. Capacidade de associação com os companheiros. Precisa de aproximação para poder render. Não funciona tão bem em situações de 1×1 e quando lançado em transições, buscando as costas da defesa. Disciplinado taticamente para cumprir o trabalho defensivo, mas sem contundência nos duelos sem a bola.
Marinho (Fortaleza) – 4
Atacante, 400 mil dólares (R$ 1,9 milhão)
O Fortaleza fez uma aposta alta demais em Marinho. O jogador foi o Rei da América há três anos. Teve duas ótimas temporadas no Santos – 2019 e 2020 – e uma no Vitória – 2016. No restante da carreira viveu altos e baixos, o que acaba por não justificar o alto investimento feito pelo Leão em salários e luvas.
Marinho treina pela primeira vez no Pici
Vendo a aquisição pelo lado positivo, Marinho é um jogador que funciona com espaços para correr. O Fortaleza costuma se organizar bem para explorar contragolpes ou bolas nas costas da defesa rival. Gera situações assim com frequência a seus atacantes. Talvez isso reative o bom momento técnico e as decisões mais inteligentes tomadas pelo atacante.
O recorte mais recente, porém, não é nada positivo. Marinho passou um ano e meio no Flamengo e não conseguiu atender as expectativas em nenhum momento. Teve poucas atuações de destaque e ainda deixou o clube queimado com os torcedores ao se envolver em um ato de indisciplina. Gosta de atuar pelo lado direito do ataque, setor em que o Fortaleza já tem atletas que vivem momento melhor.
Deixe o Seu Comentário